Empirion: Uma Aventura com Einstein

10 ANOS 96 minutos
Direção:
Título original: Empirion: Uma Aventura com Einstein
Gênero: Aventura
Ano:
País de origem: Brasil

Crítica

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Sinopse

Pré-adolescente apaixonado por ciência, Félix está em apuros e por isso decide provar a todos que pode ser um gênio da ciência. Para isso, além da ajuda dos amigos, ele pretende contar com a influência de Albert Einstein, personalidade ressuscitada no presente.

Crítica

Qualquer indústria cinematográfica que se preze necessita ter uma gama variada de produções, entre elas filmes infantis e infantojuvenis. Como queremos formar um público acostumado desde cedo ao cinema brasileiro se há pouquíssimas obras com as nossas língua e culturas direcionadas aos pequenos e jovens? Tentando preencher essa lacuna, Empirion: Uma Aventura com Einstein se apresenta no circuito comercial como alternativa caseira ao domínio estrangeiro dessa fatia importante do mercado audiovisual. Seu protagonista é Félix (Davi Campolongo), menino genial e questionador que enfrenta problemas na escola. Ao retrucar o professor que ensinava pseudociência como verdade, ele é ameaçado de perder a bolsa de estudos na instituição cuja mensalidade sua mãe não pode pagar. A única saída é ganhar um concurso de gênios precoces, trazer prestígio à instituição e com isso evitar a expulsão. Analisando apenas a premissa, conseguimos identificar diversos assuntos interessantes se interconectando, da utilização do conhecimento como mola de ascensão social aos mecanismos mercantilistas das atuais estruturas de ensino. No entanto, o cineasta Michael Ruman não está disposto a aprofundar nenhuma dessas questões, fazendo delas somente apêndices ligeiros de uma abordagem que mira no lúdico, mas que acaba acertando na inocência amenizadora das coisas.

Empirion: Uma Aventura com Einstein é uma produção com estética e narrativa semelhantes às dos programas televisivos infantojuvenis atuais, vide os cenários multicoloridos, a ênfase na aventura descompromissada com o drama e o bem sempre prevalecendo sobre o mal no fim das contas. Nesse tipo de abordagem, os problemas parecem graves, mas são tratados estritamente como fases intermediárias de um êxito consagrador. Porém, aqui há um dado de ficção científica muito curioso: a ressurreição de Albert Einstein. Sim, o pai da Teoria da Relatividade volta à vida por conta da iniciativa marqueteira de uma empresa. E ele vem ao Brasil. Vivida por Norival Rizzo, essa personalidade histórica está sendo explorada como garoto propaganda e tendo a sua capacidade de contribuir à ciência atual colocada em xeque. No entanto, tão empenhado em fazer um espetáculo simples e em tudo palatável aos pequenos, o cineasta Michael Ruman nem sequer passa perto de analisar a prevalência da publicidade sobre o saber e tampouco a possível obsolescência de uma mente brilhante do passado. Os elementos coadjuvantes da aventura de Félix para provar a sua genialidade são tratados como instrumentos para tentar dar alguma particularidade à história. Como nada é levado a sério, talvez porque os criadores entendam o público infantojuvenil como incapaz de digerir certas coisas, o filme desperdiça vários potenciais.

Davi Campolongo interpreta um protagonista persistente como tantos outros vistos no cinema. Falta elaboração para Félix ser enxergado como um jovem obstinado, não enquanto alguém teimoso em busca da prova de sua genialidade. Na companhia de seus melhores amigos, Julia (Lívia Silva) e Zé Coelho (Kevin Vechiatto), ele pretende conversar com Einstein a fim de com isso aprimorar a invenção capaz de provar a sua razão e a atitude errada da escola. Apresentado como rapaz pobre que recicla sucata e a transforma em material científico, ele não convence como menino carente que tem de lutar ainda contra a falta de recursos para sobressair. Ainda dentro da proposta estética asséptica dos cenários, a casa de Félix é um ambiente que não condiz com as dificuldades financeiras tantas vezes citadas como empecilho. Aliás, várias dessas dissonâncias entre imagem e discurso tiram a credibilidade de Empirion: Uma Aventura com Einstein. Fica difícil acreditar que a corrida contra o tempo do protagonista tem um fundo social, assim como é duro comprar a ideia de que o menino precisa vender bolinhos de feijoada nas ruas como meio de complementar a renda da mãe encarregada da limpeza num hotel. Tudo é tão esteticamente ordenado e estéril que essas situações perdem crédito como motivações, fazendo desse filme uma caminhada sem muitas oscilações e obstáculos reais rumo ao sucesso.

No primeiro parágrafo deste texto, ponderou-se a respeito da importância de filmes como Empirion: Uma Aventura com Einstein para a saúde de qualquer cinematografia. Também indício de nossa fragilidade enquanto indústria, a ausência de um número adequado de obras infantis e infantojuvenis compromete a identificação das novas gerações com o nosso cinema, deixando-as à mercê de cinematografias hegemônicas que “nadam de braçada” nesse terreno. Então, é preciso louvar a iniciativa dos produtores, mesmo que o resultado esteja aquém do esperado. Claramente lutando contra dificuldades orçamentárias, algo impresso principalmente nos efeitos especiais e na pobreza da direção de arte, o cineasta Michael Ruman faz um filme com gosto artificial de aventura, como se fosse um daqueles refrescos que lembram vagamente o sabor da fruta constante na embalagem do produto. E um dos grandes problemas no desenvolvimento do longa-metragem é a quantidade considerável de componentes citados e pouco elaborados, sobretudo por uma falta de confiança na capacidade do público pequeno de reconhecer e pensar acerca de determinados assuntos. Assim, eles são simplificados. Tentando tornar a história acessível, com isso demonstrando condescendência, o realizador não leva em consideração que o público infantil/infantojuvenil da atualidade é perfeitamente capaz de assimilar mais coisas.

Marcelo Muller

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