13 nov

Maestro(s) :: “Para mim era fundamental manter viva a possibilidade da reparação”, diz o diretor Bruno Chiche

Um dos destaques do 14º Festival Varilux de Cinema Francês é Maestro(s) (2022), coprodução França/Bélgica que conta a história de Denis Dumar (Yvan Attal), maestro de prestígio que acaba de ganhar um prêmio pela excelência de sua carreira. Filho de François Dumar (Pierre Arditi), regente internacionalmente conhecido, ele precisa desfazer um mal-entendido para ter paz. Trata-se de um filme sobre essa difícil relação entre pai e filho no ambiente da música clássica (tantas vezes retratados no cinema como propenso a rivalidades e comportamentos obsessivos), no qual questões familiares e profissionais acabam sendo indissociáveis. Para saber um pouco mais dos bastidores, das motivações e das histórias dessa produção que é um dos principais títulos do Festival Varilux de Cinema Francês deste ano, conversamos presencialmente com o diretor Bruno Chiche numa bela tarde ensolarada no Rio de Janeiro. Parte da delegação francesa que veio ao Brasil participar do evento, ele nos falou sobre a ideia, as mudanças na intenção original e revelou que há muito de íntimo e pessoal nessa história de dois maestros. Confira abaixo o nosso Papo de Cinema exclusivo com Bruno Chiche.


De onde surgiu a ideia de fazer um filme centrado na relação conflituosa entre pai e filho?
Eu tinha muita vontade de contra uma história que envolvesse essa relação entre pai e filho. Conversei com meu produtor e ele foi reticente de início, dizendo “ah, mas tem muitos filmes sobre pai e filho, porque fazer mais um?”. Mas, minha vontade era entrar nesse assunto a partir de um filho que tivesse a minha idade, entre 50 e 60 anos. Um dos filmes que serviu, de certa forma, como inspiração foi o israelense Nota de Rodapé (2011). De fato, me inspirei um pouco nesse longa-metragem, mas o que me interessava era desenvolver o relacionamento entre pai e filho, mas também trazer como elementos o filho do filho, a ex-mulher, coisas que não havia no enredo israelense.

Até pelo universo da música, a trama lembra muito o Sonata de Outono, do Ingmar Bergman. Mas, o filme sueco é duro, árido, enquanto o seu nem tanto. Era fundamental o tom esperançoso?
Vários filmes do Bergman eu uso como referência (risos). E, sim, para mim era fundamental manter viva essa possibilidade do conserto, da reparação, senão não teria qualquer interesse em contar a história. Para mim era fundamental construir esse arco para tentar mostrar a possibilidade de uma reconciliação.

Bruno Chiche. Foto/divulgação

Como você se apropriou do universo musical, algo que define inclusive a natureza obsessiva dos personagens?
Primeiramente, escrevi um roteiro que não se passava no mundo da música. Na verdade, os dois protagonistas eram professores de história. Num dia, almocei com uma amiga que é cantora lírica e me deu esse insight de que a história ficaria mais interessante se ambientada no mundo da música. Contatei meu produtor e disse que iria reescrever o roteiro com essa mudança fundamental. Amo realmente a música, vivo com ela o tempo inteiro. E, além disso, sou um diretor que adora colocar música em seus filmes. Então, ambientar essa história no mundo da música também me autorizou a incluir na trilha sonora algumas peças sublimes.

Um coadjuvante interessante é justamente o filho do personagem da sua idade, um menino que fica no meio entre a rixa do pai e do avô. Gostaria que você falasse um pouco dessa figura.
Exatamente, assim posso fazer o personagem da minha idade ser pai e filho ao mesmo tempo, o que torna as coisas mais interessantes. Tenho um filho da idade desse rapaz. Quis mostrar um homem entre dois problemas. O filho da minha idade que tem uma questão com o pai, mas que tem dúvidas e dilemas diante do próprio filho. Esse filme é muito pessoal, eu diria íntimo. Perdi meu pai no dia seguinte do lançamento do filme, aliás. Há muitas coisas na trama que são inspiradas na minha realidade, coisas pequenas, como um filho muito chegado ao avô, por exemplo.

E o filme fala sobre homens com dificuldade para revelar seus sentimentos. Isso estava desde o começo no projeto ou foi ganhando corpo ao longo do desenvolvimento dele?
Sim, é verdade que esses homens não conseguem se expressar sobre os próprios sentimentos. O personagem principal é um pouco covarde, que não quer decepcionar ninguém, mas acaba decepcionando todo mundo. Isso foi ganhando corpo à medida que avançava o trabalho com os atores.

O que você está achando dessa oportunidade de vir ao Brasil para apresentar o filme ao público do Festival Varilux de Cinema Francês?
É extraordinário, fantástico. Estou muito feliz de ter feito um filme que viaja, que toca pessoas de várias partes do mundo. O que me emociona é ver que a reação dos espectadores do Brasil é praticamente a mesma dos da França. O filme tem um quê de universal e ver o efeito disso é impressionante. E, além disso, estou falando de uma música que não tem fronteiras. Estou muito feliz de estar aqui apresentando esse filme no Brasil.

Marcelo Muller

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