14 nov

O Astronauta :: “Para conseguir coisas grandiosas é preciso ser obstinado e poético”, diz o ator e diretor Nicolas Giraud

Em O Astronauta (2023), Nicolas Giraud vive o protagonista e dirige a história desse homem que deseja realizar o impossível. Contrariando todos os prognósticos e protocolos do bom senso, o personagem principal pretende orbitar a Terra com um foguete construído de modo amador e clandestino no quintal. Para isso, contará com a ajuda de um astronauta experiente, de um amigo que desenvolveu um combustível volátil, de uma matemática que não conseguiu provar seu valor pelos meios acadêmicos convencionais e pela avó que acredita piamente em seu sucesso. Um dos destaques do 14º Festival Varilux de Cinema Francês, o longa-metragem foi exibido anteriormente no Festival do Cairo 2022 e no Festival de Glasgow 2023. Para saber um pouco mais dos bastidores e das motivações dessa jornada dupla de ator protagonista/diretor, conversamos com Nicolas Giraud quando ele passou pelo Brasil como parte da delegação francesa do evento. O resultado você confere com exclusividade logo abaixo.

Qual são os principais desafios de protagonizar e dirigir ao mesmo tempo?
Para mim o desafio está mesmo na direção, na orquestração geral, pois é preciso estar sempre atento e vigilante, mantendo certa distância para fazer o melhor filme possível. O trabalho como ator é desafiante, claro, mas o da direção é onde está esse lugar mais provocador.

Existe uma linha tênue entre a teimosia e a obstinação. Sua intenção era mesmo construir um personagem obstinadamente romântico, acima de tudo?
Para conseguir coisas grandiosas é preciso ser obstinado e poético. É também fundamental ter perseverança e fé, e isso evidentemente leva a um comportamento muitas vezes obsessivo, mas também cria um intenso bloco de energia para conseguir o melhor, independentemente do objetivo a ser alcançado. Era mais ou menos essa força que eu gostaria de expressar com a jornada romântica desse personagem.

Foto/divulgação

E esse personagem é cercado de coadjuvantes que também podem ser encarados como amadores românticos. Desde o começo a ideia era criar esse grupo de apoio igualmente obstinado?
Gosto do romantismo pela voluptuosidade e precisamos disso para não ficar num plano banal. Por exemplo, o Alexander, personagem do Mathieu Kassovitz, é um voluptuoso nato enquanto os demais são outsiders. Então, o protagonista é cercado de amadores no que diz respeito às suas profissões, mas não quanto àquilo que eles querem, o que desejam fortemente e como agem para concretizar essas ideias. Evidentemente, amo esse romantismo do qual estamos falando aqui.

Vivemos numa realidade de discurso muito individualista, mas, de certa forma, o filme prega isso de que o sonho é melhor se sonhado junto. É mais ou menos por aí?
Acredito na associação dos talentos. Sozinhos somos mais fracos, juntos construímos força. É a mesma coisa no cinema, no momento de criar um filme. É preciso acreditar no talento de todos. Para fazer um filme, mesmo que um membro da equipe seja mais intenso, é preciso um grupo para a realização se concretizar plenamente. Assim como orbitar a Terra num foguete, fazer um filme é apenas possível se nos associamos aos outros.

E como está sendo para você vir ao Brasil apresentar o filme para o público, conversar com as pessoas, em suma, vivenciar essa edição do Festival Varilux?
É um privilégio enorme. Me considero um pouco brasileiro porque amo a natureza. Estar aqui é maravilhoso e todos da delegação do evento estão sentindo a mesma coisa, como é um privilégio estar no Brasil aqui, neste momento.

Marcelo Muller

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