7 mar

Oscar 2024 :: Apostas para Melhor Filme

Uma seleção acima da média. Assim pode ser descrita a relação de indicados a Melhor Filme no Oscar 2024. A festa máxima de Hollywood conta pelo terceiro ano consecutivo com dez finalistas. Os escolhidos possuem fortes defensores e é difícil defender com argumentos convincentes a exclusão de um ou outro título – afinal, possuem seus públicos cativos e atendem a demandas bastante específicas, do feminismo à representatividade negra, dos povos originários norte-americanos aos imigrantes, do holocausto aos grandes nomes da arte mundial. Mesmo assim, temos concorrentes óbvios, outros inesperados e, como sempre, aqueles que ficaram de fora injustamente. E entre campeões de bilheteria e longas que pouca gente descobriu, não é raro termos um favorito que arrecadou quase US$ 1 bilhão nas bilheterias de todo o mundo – algo que parece ser bem provável de se confirmar nesta temporada. Frente a este cenário, confira as nossas apostas:

Indicados

FAVORITO
Oppenheimer
O título a ser superado – o que, provavelmente, ninguém conseguirá. Oppenheimer não só é o campeão de indicações do ano (são 13), como também ganhou praticamente todas as disputas em que marcou presença: o Bafta, o Critics Choice, o Globo de Ouro, o prêmio do Sindicato dos Produtores (PGA Awards), o Satellite e dezenas de premiações das agremiações de críticos por todos os Estados Unidos. Após ter concorrido nessa categoria principal com A Origem (2010) e com Dunkirk (2017), Christopher Nolan finalmente tem tudo para se consagrar com a trajetória do homem que entrou para a história como o “pai da bomba atômica”. Não por acaso, foi responsável também por um dos maiores fenômenos de bilheteria do último ano – o tal Barbenheimer, que movimentou torcidas e levou milhares às salas de cinema! E se seu oponente se saiu melhor na venda de ingressos, não se pode dizer que esse aqui tenha passado vergonha: até o momento, sua arrecadação mundial está em US$ 957 milhões! Para um longa de três horas de duração, sem fazer parte de franquias, ser sequência ou um exemplar de super-heróis, sem grandes nomes no elenco e realizado de forma completamente autoral, esta é uma conquista que não pode ser menosprezada. Portanto, bom ter isso em mente: sua vitória não é um mérito apenas artístico, mas antes de tudo, um feito da indústria!
Indicações: Filme, Direção, Ator, Atriz Coadjuvante, Ator Coadjuvante, Maquiagem & Cabelos, Trilha Sonora, Som, Roteiro Adaptado, Fotografia, Montagem, Design de Produção, Figurino
Onde assistir: disponível em VoD

MERECE
Assassinos da Lua das Flores
Este é o filme com mais notas 10 na Grade Crítica do Papo de Cinema – nada menos do que dez críticos deram nota máxima ao novo filme de Martin Scorsese (em termos de comparação, o grande favorito, apontado acima, não recebeu nenhum 10, em um conjunto de mais de trinta críticos votantes)! Alguém aí duvida, portanto, que Assassinos da Lua das Flores é o “vencedor moral” deste Oscar? Porém, durante toda esta temporada, ganhou apenas o National Board of Review e o prêmio dos críticos de Chicago, de Phoenix, de Austin, de Oklahoma, de New Mexico, de Columbus e de Nova York – pouco, diante de tudo que essa obra representa. Lily Gladstone pode fazer história se ganhar como Melhor Atriz – será a primeira intérprete feminina descendente dos povos originários norte-americanos a conseguir tal feito – mas é um absurdo não aparecer como favorito também em Direção, Ator Coadjuvante, Fotografia e Montagem (para dizer o mínimo)!
Indicações: Filme, Direção, Atriz, Ator Coadjuvante, Trilha Sonora, Canção Original, Fotografia, Montagem, Design de Produção, Figurino
Onde assistir: AppleTV+ e disponível em VoD

TORCIDA
Os Rejeitados
Talvez o filme mais abertamente afetivo dentre os dez concorrentes. Porém, a partir do momento em que o diretor Alexander Payne – vencedor de dois Oscar e com três indicações como realizador – ficou de fora da disputa de Direção, as chances de emplacar na categoria principal foram drasticamente reduzidas (algo que só podemos lamentar, é preciso reconhecer). Os Rejeitados é um longa sem grandes aspirações, daqueles títulos considerados “pequenos”, mas de enorme coração. Favorito absoluto em Atriz Coadjuvante (pode surpreender também em Ator e em Roteiro Original), tem registrado uma temporada brilhante, digna de muitos aplausos e reconhecimentos, mas em geral o entusiasmo levantado é comedido, não a ponto de despertar paixões – ao contrário do que se verificou aqui no Papo de Cinema! Afinal, dentre todos os concorrentes, quatro receberam nota 10 aqui no site, e este, definitivamente, foi um deles. E que lindo seria se ganhasse o prêmio principal, hein? A nossa torcida, portanto, ele já tem!
Indicações: Filme, Ator, Atriz Coadjuvante, Roteiro Original, Montagem
Onde assistir: em cartaz nos cinemas

AZARÃO
Ficção Americana
Das cinco indicações recebidas, uma vitória já é certa: a de Roteiro Adaptado. Agora, quais as chances de Ficção Americana também se dar bem por aqui? Praticamente nulas. A não ser que os votantes queiram pagar de “politicamente corretos”, o que parece ser também a razão de sua presença entre os dez finalistas. Não que o filme seja ruim – longe disso, aliás. No entanto, é mais um daqueles casos de trama de uma só piada, que uma vez compreendida, há pouco a se destacar – por mais que as boas atuações do elenco e a condução segura do diretor façam do conjunto digno de atenção. Essa sátira sobre um escritor negro que só começa a fazer sucesso a partir do momento em que escreve – anonimamente, que fique claro – um romance repleto dos clichês esperados pela literatura negra, foi o grande vencedor do Black Reel Awards, na premiação da Associação dos Críticos de Cinema Afro-Americanos e no Círculo de Críticos de Cinema Negros. Em todas as demais, tem sido presença constante – e só. Ou seja, seria um fenômeno de nicho, e nada mais?
Indicações: Filme, Ator, Ator Coadjuvante, Roteiro Adaptado, Trilha Sonora
Onde assistir: Prime Vídeo

NEGAÇÃO
Maestro
Dos dez indicados, se há um único filme meio que unanimidade no quesito “não deveria estar por aqui” é Maestro. Para se ter uma ideia, a grande aposta da Netflix nesta temporada tem sido indicada a quase tudo, porém, das mais de 200 indicações recebidas, ganhou apenas em 10% delas (uma taxa incrivelmente baixa, vamos combinar). E sempre em categorias técnicas, como Maquiagem & Cabelos (o único prêmio que deve levar também no Oscar). Apontado mais como um retrato do desespero de Bradley Cooper em finalmente ganhar uma estatueta para chamar de sua – neste ano ele chegou ao incrível número de 12 indicações ao longo de sua carreira, ainda sem nenhuma vitória – a cinebiografia bastante comportada do compositor Leonard Bernstein deve ser rapidamente esquecida já a partir do dia 11 de março, quando finalmente as atenções se voltarem aos possíveis candidatos do ano que vem. Nesse imbróglio, a se lamentar mesmo apenas o envolvimento de dois dos maiores cineastas vivos com esse projeto – Steven Spielberg e Martin Scorsese – que aqui aparecem como produtores. Imagina o quão diferente poderia ter sido o resultado caso um deles tivesse assumido também a direção? Bom, sonhar não custa nada.
Indicações: Filme, Ator, Atriz, Roteiro Original, Fotografia, Som, Maquiagem & Cabelos
Onde assistir: Netflix

POLÍTICO
Pobres Criaturas
Quem não quer um concorrente dirigido por um polêmico cineasta grego e por muitos lido como um forte manifesto feminista? Pobres Criaturas pode preencher todos esses quesitos, mas também estimula uma reflexão: seria essa história adaptada para a tela grande com o mesmo resultado caso tivesse no comando uma realizadora mulher? Eis a dúvida. O certo, porém, é que fica bonito gostar deste filme, por mais que um mergulho em suas decisões possam apontar para resultados nem sempre dos mais agradáveis. Um dos campeões de indicações – concorre em 11 categorias – pode tanto ser um dos mais premiados da noite como sair de mãos abanando (ou seja, não é o favorito em nenhuma delas, mas é sempre um dos mais lembrados, independente da disputa). Tanto que não ganhou nem um único prêmio de “Melhor Filme” nesta temporada, por mais que tenha sido indicado em praticamente todas as premiações. Ou seja, é aquele candidato mais visto como madrinha, e não como a noiva, certo? A fotografia fica bonita o tendo no altar, mas nunca no centro das atenções.
Indicações: Filme, Direção, Atriz, Ator Coadjuvante, Roteiro Adaptado, Fotografia, Montagem, Design de Produção, Figurino, Maquiagem & Cabelos, Trilha Sonora
Onde assistir: em cartaz nos cinemas

SURPRESA
Anatomia de uma Queda
Vencer da Palma de Ouro no Festival de Cannes não é para qualquer um. Só nos últimos anos, títulos como Triângulo da Tristeza (2022) e Parasita (2019) não só se deram bem no evento francês, como também chegaram ao Oscar na categoria principal (o último, aliás, ganhou nas duas disputas). Porém, assim como o longa sul-coreano – o único título não falado em inglês em toda a história a levar para casa a estatueta dourada – Anatomia de uma Queda também não tem o idioma britânico como língua principal. Apesar de contar com alguns diálogos “para inglês ver (e ouvir)”, a maior parte se dá em francês ou em alemão, o que já faz de sua presença por aqui um tanto inesperada. Se levarmos em conta que não foi o escolhido da França para disputar uma indicação a Melhor Filme Internacional – ser preterido no seu próprio país nunca é um bom sinal – o espanto fica ainda maior. Mesmo assim, tem gerado bons debates a respeito de uma história sem respostas prontas e uma atuação contagiante de sua protagonista, Sandra Hüller, que, aliás, concorre também ao Oscar. Vencedor do César e premiado no Globo de Ouro, no Critics Choice, no Bafta e no European Film Awards, é o candidato que oferece à premiação um charme “internacional”, ainda que suas chances reais de vitória sejam mínimas.
Indicações: Filme, Direção, Atriz, Roteiro Original, Montagem
Onde assistir: em cartaz nos cinemas

CONTROVERSO
Zona de Interesse
Premiado como Melhor Filme pelo júri da crítica (FIPRESCI) no Festival de Cannes – e com o Grande Prêmio do Júri (pelo júri oficial) – o longa de Jonathan Glazer tem despertado paixões na mesma medida em que tem gerado notas de repúdio. Por um lado, os que ficaram chocados pelo retrato distanciado de uma das maiores atrocidades humanas durante o século 20 – o Holocausto – e de um outro o que apontam essa abordagem a respeito do conceito da “banalização do mal” como superficial e repleta de gatilhos para manipular a atenção do espectador. Independentemente do lado em que você esteja, o certo é que este é um filme do qual é impossível ficar indiferente. E tem colecionado reconhecimentos nesta temporada, como no Bafta de onde saiu como Melhor Filme Britânico e Melhor Filme em Língua Não Inglesa, ou no Satellite, no qual foi premiado como Melhor Filme Internacional. Nessa categoria, aliás, sua vitória no Oscar é dada como certa. Mas será que tem força suficiente para marcar o mesmo gol também por aqui?
Indicações: Filme, Filme Internacional, Direção, Roteiro Adaptado, Som
Onde assistir: em cartaz nos cinemas

INDIE
Vidas Passadas
O longa de estreia de Celine Song teve suas primeiras exibições nos festivais de Sundance e de Berlim – ou seja, mais uma um ano atrás! – de onde saiu com pinta de campeão, merecedor de aplausos entusiasmados por quem o viu em primeira mão (como nós aqui no Papo de Cinema, que estivemos presentes na Berlinale). Com o passar dos meses essa história de amor que atravessa décadas e continentes foi conquistando o coração de uma plateia interessada em um cinema mais autoral e humano. Não por acaso, foi considerado o melhor filme da temporada no Gotham, no Film Independent Spirit Award e pela Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA, além de ter recebido indicações ao Globo de Ouro, Critics Choice, Satellite e Bafta, entre outros. Porém, talvez seja o concorrente de melhor bilheteria dentre todos os indicados (arrecadou menos de US$ 30 milhões ao redor do mundo). Ou seja, é como uma pedra preciosa que vem sendo descoberta aos poucos. Aos sortudos que com ela já tiveram contato, o importante é comemorar que ao menos tenha chegado até aqui. E esperar que outros também percebam sua simples genialidade daqui em diante.
Indicações: Filme, Roteiro Original
Onde assistir: em cartaz nos cinemas

BLOCKBUSTER
Barbie
Ninguém se consolida como o filme de maior bilheteria do ano – US$ 1,4 bilhão, e contando – e sai impune a tamanho escrutínio! Greta Gerwig e Margot Robbie não receberam as indicações que mereciam (Direção e Atriz), mas também não ficaram de mãos abanando (ambas concorrem, a primeira em Roteiro Adaptado, e a segunda por aqui, como produtora), e se em algumas das sete categorias que a história da boneca que ousou se aventurar pela vida real aparece na disputa como favorita (Canção Original, por exemplo), no geral a sensação é de que a recompensa já foi maior do que o investimento e que uma vitória por aqui seria um pouco além da conta. De qualquer forma, tem seus defensores apaixonados e merece agradecimento, se não pelo excelente – e surpreendente – trabalho visto em cena, também pelo mérito te ter levado novamente grandes públicos às salas de cinema, de uma forma como há muito não se via (principalmente nesse mundo pós-pandemia). Apenas para constar, foi premiado como Melhor Filme de Comédia no Critics Choice e pelos críticos de Las Vegas – e só. Como “Melhor Filme”, de fato, só mesmo no People’s Choice Awards.
Indicações: Filme, Ator Coadjuvante, Atriz Coadjuvante, Canção Original, Canção Original, Roteiro Adaptado, Design de Produção, Figurino
Onde assistir: Max e disponível em VoD

ESQUECIDO
Segredos de um Escândalo
Indicado a Melhor Filme no Globo de Ouro, no Satellite e no Film Independent Spirit Awards, Segredos de um Escândalo apareceu também entre os finalistas nas premiações dos críticos de Portland, Seattle, Dakota do Norte, Atlanta, Oklahoma, Boston, Georgia, Indiana, St. Louis, Florida, Chicago e Dallas-Fort Worth. Ou seja, torcida tinha, com certeza. Mesmo assim, o mais recente trabalho do diretor Todd Haynes (o mesmo dos oscarizáveis Carol, 2015, e Longe do Paraíso, 2002) garantiu apenas uma solitária indicação – concorre a Melhor Roteiro Adaptado. É de se lamentar que não apenas essa trama sobre ficção e realidade, manipulação infantil e relacionamentos controversos não tenha recebido maior atenção, ainda mais contando com performances superlativas de Natalie Portman, Charles Melton (uma revelação) e, principalmente, de Julianne Moore, que talvez tenha entregue a personagem mais odiada – e hipnotizante – desta temporada.
Indicações: Roteiro Adaptado
Onde assistir: disponível em VoD
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Robledo Milani

é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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