16 jan

Turma da Mônica: Reflexos do Medo :: “A ideia é expandir o universo dos quadrinhos no audiovisual”, diz Marcos Saraiva, diretor executivo da Maurício de Sousa Produções

Formado em publicidade, Marcos Saraiva é diretor executivo da Mauricio de Sousa Produções. Com cursos de animação e modelagem 3D e direção de arte, ele está à frente do departamento audiovisual e também é líder do núcleo digital da empresa. Marcos está diretamente ligado aos filmes, às séries e animações, bem como às redes sociais, aplicativos e games da Turma da Mônica, assim liderando um conjunto plural de iniciativas. Além disso, ele é filho de Mônica Sousa, filha de Maurício de Sousa que inspirou uma das personagens mais emblemáticas das histórias em quadrinhos brasileiras. Conversamos com Marcos Saraiva para saber um pouco mais sobre Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo (2023), primeira aventura cinematográfica baseada na linha Turma da Mônica Jovem. Também discutimos os próximos planos da Maurício de Sousa Produções sobre produtos audiovisuais. Confira esse bate-papo exclusivo.

Foto/Nilton Fukuda

O processo de levar a Turma da Mônica ao audiovisual deve ter sido muito bem pensado, desde a escolha dos parceiros de produção até os estágios finais de lançamento dos filmes e da série. Como foi essa jornada até aqui?
Foi bem difícil. Entre as características do Maurício (de Sousa) sempre estiveram a irreverência e a ousadia. Quando chegou a proposta de adaptação da HQ Turma da Mônica: Laços, a ideia era uma animação. Foi o Maurício quem provocou a produtora para pensar num live-action. Os responsáveis por ela saíram com essa pulguinha atrás da orelha e isso resultou na repercussão e no sucesso que a gente já sabe. Antes disso, tínhamos o plano de aumentar as produções audiovisuais. Em 2016, montamos um pacote com 39 projetos audiovisuais baseados na Turma da Mônica, desde stop-motion do Piteco até série do Louco. Pegamos alguns deles e fomos às feiras internacionais para sentir a temperatura do mercado. Para nossa surpresa, a recepção foi ótima. Nossa estratégia sempre foi diversificar as famílias de personagens e também segmentar mais as faixas etárias. De lá para cá, abrimos a nossa Caixa de Pandora. Até 2019, tínhamos apenas as produções da Turma da Mônica clássica e da Toy. Agora temos 13 projetos audiovisuais em algum estágio de desenvolvimento.

Mas o live-action impunha desafios específicos, não é?
O desafio do live-action é mais ou menos o mesmo de quando fazemos algo pela primeira vez na MSP (Maurício de Sousa Produções). Passei por isso quando montamos o departamento digital, pois era a primeira vez que falaríamos diretamente com o público. Dá um friozinho na barriga. Nos aproximamos de pessoas competentes e temos uma curadoria interna de conteúdo. Este foi o grande desafio do live-action: fazer algo novo. Como vai ser? Como será a aceitação? Como os atores se comportarão fora de tela? Nos aproximamos da Biônica, que é um parceiro incrível, com o Maurício de Sousa sempre acompanhando tudo de perto, cada etapa. Tudo isso deu uma tranquilizada e agora a ideia é expandir esse universo nas telonas.

E agora chega às telonas a Turma da Mônica Jovem. Uma pergunta que reverbera por aí: não seria melhor ter utilizado o mesmo elenco dos dois primeiros filmes, os da turma clássica, uma vez que eles já são adolescentes?
A Turma da Mônica Jovem é uma propriedade intelectual diferente da Turma da Mônica clássica. Então, até os contratos com parceiros são feitos dentro de uma marca específica. Na verdade, esse projeto da Jovem é anterior ao Turma da Mônica: Laços (2019). Estrategicamente, precisamos diferenciar as marcas. Trazer o mesmo elenco dificultaria essa separação, pois o público entenderia quase um efeito Harry Potter. Se tivéssemos uma propriedade apenas, provavelmente utilizar o mesmo elenco seria até a estratégia natural. Mas, foi importante criar essa divisão, deixando claro que um universo é mais lúdico, voltado a toda família, enquanto o outro é pensado para os adolescentes. Outra coisa importante era a liberdade de falar com outro tom, pois Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo (2024) é suspense e flerta com o terror, contém um elemento paranormal e essa liberdade talvez não teríamos com a turma clássica. É super importante colocarmos os pés em várias fatias de mercado, uma parte fundamental dessa expansão.

E como se deu esse diálogo com a produtora parceira, especialmente para o desenho desse novo universo, agora comandado por um cineasta como Mauricio Eça?
Esse diálogo é uma das partes principais do desenvolvimento dos projetos. Participamos muito ativamente do desenvolvimento. Durante a elaboração de Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo, tivemos pelo menos três meses de diálogos entre os roteiristas de quadrinhos da Turma da Mônica Jovem, o Maurício de Sousa e os roteiristas do filme. Não avaliávamos nem a proposta criativa, mas se os personagens faziam sentido em determinados contextos. A galera que produz filme atualmente não é necessariamente formada por quem conheceu Turma da Mônica Jovem tão forte, pois é de uma geração muito nova. Entendemos que era extremamente importante contextualizar esse universo para os roteiristas. E o Maurício de Sousa falou diretamente com eles. Diferentemente da turma clássica, a jovem não está tão fortemente presente no imaginário e no inconsciente afetivo das pessoas. Atualmente temos uma equipe de cinco pessoas criativas que compõe o núcleo de desenvolvimento dos projetos audiovisual. Assim conseguimos dar respaldo aos parceiros. Sobre Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo, sou apenas elogios ao projeto, me sinto muito orgulhoso dele.

E quais são as dores e as delícias de trabalhar em família, visto que você é filho da Mônica Sousa e neto do próprio Maurício de Sousa?
É muito gostoso isso tudo. A MSP é considerada uma grande família. Temos funcionários com 30, 40, 50 anos de casa. Mas, obviamente, sou sangue da Mônica e do Maurício. Trabalho na empresa há 15 anos, mas costumo brincar dizendo que estou lá desde que nasci. Meu pai chegou a trabalhar na MSP, produzindo A Princesa e o Robô (1983). O Maurício é muito respeitoso, não é porque sou da família que fui favorecido ou respeitado. Claro que tenho liberdade por ser filho da diretora comercial e do presidente, mas há funcionários com bem mais liberdade do que eu (risos). Maurício deixa a porta sempre aberta, não é preciso marcar horário para falar com ele. Esse ambiente familiar foi importante para minha evolução pessoal e do próprio trabalho, pois automaticamente as coisas fluem mais fácil num ambiente leve. O lado ruim é misturar as coisas, às vezes (risos). Estou na sala da Mônica falando como funcionário e levo puxão de orelha da mãe (risos). Estou na casa dela num fim de semana de visita e ela quer falar de trabalho (risos). Esse é o lado não tão lindo da história (risos).

Marcos ao lado de sua mãe, Mônica Sousa. Foto/Maurício de Sousa Produções

E quais os próximos projetos audiovisuais da Maurício de Sousa Produções?
O projeto iniciado com Turma da Mônica Jovem: Reflexos do Medo é ambicioso. A ideia é termos uma quadrilogia de filmes da Turma da Mônica Jovem. Estamos desenvolvendo uma animação em longa-metragem sobre o Horácio com o Carlos Saldanha. Franjinha & Milena: Em Busca da Ciência é uma série live-action que chega no primeiro semestre deste ano ao streaming. Estamos trabalhando no filme do Astronauta, animação voltada ao público jovem/adulto. Neste ano chega o filme do Chico Bento. Estamos com 13 projetos audiovisuais em desenvolvimento. Nosso grande objetivo agora é ativar o audiovisual nas outras famílias de personagens. Meus objetivos para os próximos anos é viabilizar projetos sobre o Penadinho, a Turma da Mata, Piteco, Papa-Capim, Horácio, entre outros. Obviamente, continuando com as produções que já temos. A ideia é repetir o processo com outras famílias de personagens, expandir o universo dos quadrinhos no audiovisual.

Marcelo Muller

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *