19 mai

Uma Madona de queixo quadrado

Formado em Arte Dramática na USP, o paulista Igor Cotrim foi notado pela primeira vez pelo grande público no seriado global Sandy & Junior, em 1999. Depois de participar das novelas Mulheres Apaixonadas (2003), Floribella (2005) e Chamas da Vida (2008), chamou atenção ao entrar na segunda edição do reality show A Fazenda, da Record, em 2009. Toda essa exposição o preparou para seu primeiro desafio no cinema, a travesti Madona (assim mesmo, com um “N” apenas no nome, ao contrário da popstar Madonna, que obviamente serviu de inspiração) na comédia Elvis & Madona, de Marcelo Laffitte. O filme chegou aos cinemas somente em 2011, apesar de ter sido filmado alguns anos antes, e foi suficiente para colocar o ator de 37 anos no cenário cinematográfico nacional. Ao contar a inusitada história de amor entre um travesti e uma lésbica (Simone Spoladore), ganhou o prêmio de Melhor Roteiro no Festival do Rio, de Melhor Atriz (Spoladore) na ACPA – Associação Paulista de Críticos de Arte, e de Revelação do Ano, para Cotrim, no Prêmio Guarani de Cinema Brasileiro. Foi sobre essa conquista, sua experiência em Elvis & Madona e seus próximos trabalhos que conversamos nessa entrevista exclusiva para o Papo de Cinema!

 

Parabéns pelo reconhecimento como Revelação de 2011 no Prêmio Guarani de Cinema Brasileiro! Como tem sido a sua avaliação às reações do público e da crítica a Elvis & Madona?

Em primeiro lugar, quero dizer que fiquei muito feliz com o reconhecimento do Prêmio Guarani! São dois momentos muitos legais da minha vida que combinaram: além da minha escolha como Revelação, tem a coincidência de que irei fazer no teatro uma peça de Luiz Vitalli chamada Complexo de Iapinari, com uma temática indígena e moderna, e o nome casou com o momento. O público que teve a oportunidade de ver Elvis & Madona está sendo muito carinhoso e receptivo, assim também como a crítica, que enxergou todas as nuances da construção de uma personagem tão rica e difícil. Estou ouvindo e lendo muita coisa boa.

Como a travesti Madona, em "Elvis & Madona"

Como surgiu o convite para interpretar a travesti Madona?

Bayard Tonelli, do grupo Dzi Croquettes, me viu fazendo performances poéticas num sarau e me apresentou o (Marcelo) Laffitte (diretor de Elvis & Madona). Fui até a casa dele com minha mulher e cantei uma música da minha banda Beep-Polares (que acabou entrando na trilha do filme) e aí consegui uma audição. Quando fui fazer o teste já estava todo depilado, completamente dentro da personagem.

 

Qual foi o maior desafio para construir essa personagem?

Evitar a caricatura e buscar a verdade da relação entre as duas (sempre rio quando falo “as duas”). Além da preparação bacana da Angela Durans, nós tivemos que construir a história de amor de uma forma crível, e por isso mesmo foi necessário o laboratório com as travestis. Eu e a Simone Spoladore fomos assistir à diversos shows do gênero e discutimos muito as intenções e reações dessas personagens. Eu me foquei mais em observar as mulheres, a feminilidade real, visto que a Madona criada pelo Laffitte, é uma verdadeira Diva! Sem contar, é claro, o terror das unhas coladas durante um mês e meio, o ter que andar de salto… tudo orientado pelo meu torturador corporal, o próprio Bayard Tonelli.

 

Sei que você chegou a disputar esse personagem com travestis de verdade. Havia um receio de não soar “verdadeiro” o suficiente?

Nathalie, minha mulher, chegou a ir a uma agência procurar travestis de verdade para o filme. Eu, com esse queixo quadrado, nem pensei que poderia pleitear o papel. Mas depois de todo o preparo, determinação, a direção segura do Marcelo e a generosidade em cena de Simone, qualquer dúvida havia se dissipado. Eu estava realmente PREPARADA (risos)!

Simone Spoladore e Igor Cotrim

Quais são teus próximos projetos no cinema?

Terei o prazer de ser dirigido por Helena Ignez (Luz nas Trevas) no seu próximo filme, Ralé, em que contracenarei com Ney Matogrosso e Djin Sganzerla. Também farei um demônio chamado Abigor (sic) num filme de terror com uma pegada bem diferente e com uma história super interessante, a ser dirigido por Chico Paschoal. E um dos demônios do filme será meu grande amigo e talentoso Babu Santana! Estou bastante empolgado com ambos os projetos! Quem sabe rola um novo Guarani no próximo ano?

 

Entrevista feita por e-mail no dia 17 de maio de 2012.

Robledo Milani

é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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